Entre sonhos e solidão: os bastidores silenciosos da formação médica
O Diário - 23 de outubro de 2025
Ana Júlia Lazarin Torrezan, estudante do 8º período do curso de medicina da FACISB, orientada pela profª Barbara Sgavioli Massucato
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A formação médica é marcada por conquistas importantes, mas também por obstáculos silenciosos que impactam a saúde mental dos estudantes. Além das longas jornadas de estudo diárias, avaliações constantes e contato precoce com situações de sofrimento humano, há o desafio de viver distante do núcleo familiar. Em cidades universitárias como Barretos, muitos jovens chegam de diferentes regiões em busca de um sonho, mas enfrentam o peso da solidão e da adaptação a uma nova realidade social e cultural longe de suas figuras de referência, como a materna e paterna.
Pesquisas nacionais e internacionais apontam que os estudantes de medicina apresentam índices mais elevados de ansiedade, depressão e exaustão emocional em comparação à população geral. A pressão por desempenho no curso, aliada ao sentimento de corresponder às expectativas pessoais e familiares, torna o percurso acadêmico um terreno fértil para o surgimento de sofrimento emocional e/ou físico. Estar longe da família, em especial, priva o estudante de uma rede de apoio essencial, de modo presencial, que costuma funcionar como fator protetor contra o estresse e a sobrecarga emocional.
É fundamental compreender que a saúde mental não é apenas uma doença clínica a ser tratada, visto que é, também, um pilar essencial da formação profissional. Instituições de ensino têm papel decisivo na criação de espaços de acolhimento e estratégias de prevenção, como programas de apoio psicológico e incentivo a práticas de autocuidado. Do mesmo modo, a sociedade deve reconhecer que, por trás da imagem de dedicação dos futuros médicos, existem jovens em processo de amadurecimento, que também necessitam de cuidado, compreensão e constante acolhimento.
Enfrentar os desafios da graduação exige resiliência, mas não deve ser sinônimo de sofrimento silencioso. Falar sobre saúde mental é romper barreiras culturais e admitir que, para cuidar do próximo, é preciso primeiro cuidar de si. O estudante que encontra equilíbrio emocional durante sua formação e atuação não apenas se fortalece individualmente, mas também se torna um profissional mais empático, preparado e humano.



