“Eu exulto com as obras de tuas mãos” (Sl 92,5)
Diocese de Barretos - 8 de maio de 2025

“Eu exulto com as obras de tuas mãos” (Sl 92,5)
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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.
Em seu ministério público, o Senhor Jesus quis contar com a cooperação humana e, por isso, chamou doze discípulos e os enviou para a missão apostólica. É deles que trata o livro dos Atos dos Apóstolos, ao afirmar que “muitos sinais e maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos” (At 5,12). Eles não apenas pregaram o Evangelho, anunciando e testemunhando a ressurreição de Jesus, como também realizaram curas e milagres, administraram inúmeros batismos, fundaram comunidades, entre tantos outros feitos admiráveis. De fato, as mãos dos Apóstolos foram prodigiosas e cooperaram na edificação da Igreja de Jesus Cristo. O tema das mãos, na Sagrada Escritura, é recorrente e carregado de significado simbólico, espiritual e humano. As mãos são frequentemente mencionadas como instrumentos de ação, bênção, trabalho, cura, proteção e julgamento. Comumente indicam o fazer, isto é, o agir de Deus na história, em favor do seu povo. “Pois tu me alegras, ó Senhor, com os teus feitos, e eu exulto com as obras de tuas mãos” (Sl 92,5). Por isso, “minha alma se agarra a vós; com poder, vossa mão me sustenta” (Sl 62,9), diz o salmista. Também Jesus Cristo, em sua ternura e entrega, usou de suas mãos para tocar, acolher, curar e salvar: usou-as tanto para curar os possuídos por diversos espíritos e enfermidades (cf. Lc 4,40-41), quanto para acolher e abençoar as criancinhas (cf. Mc 10,16). Na verdade, as mãos de Jesus são a sua verdadeira “carteira de identidade”. Foi olhando para as mãos chagadas de Jesus que os discípulos venceram o medo e se alegraram por reconhecer o Senhor Ressuscitado (cf. Jo 20,20). Nessas mãos, os discípulos não somente reconheceram os sinais da paixão — a prova de seu amor —, mas também as mesmas mãos do Jesus de Nazaré que “andou por toda parte fazendo o bem” (cf. At 10,37-38). Como vemos, na linguagem bíblica, as mãos são mais do que um instrumento físico: elas são extensões do nosso coração e da nossa fé. Diante disso, resta-nos perguntar: o que revelam as nossas mãos de cristãos? Elas podem mostrar se somos pessoas de serviço ou de egoísmo, se curamos ou ferimos, se construímos ou destruímos, se bendizemos ou amaldiçoamos. Também para nós, as mãos são nossa verdadeira identidade. Dizem mais sobre quem somos do que as palavras que usamos a nosso respeito. Nossa boca pode mentir ou enganar, mas nossas ações não mentem — e nossas mãos revelam, de fato, quem somos. Se é verdade que as mãos chagadas de Cristo, no alto da cruz, nos concederam a graça do perdão e da salvação, também é verdade que, por meio dos sinais e prodígios de nossas mãos unidas às do Cristo Redentor, seremos capazes de alcançar a graça suplicada pelo salmista: “Quem subirá até o monte do Senhor? (...) Quem tem as mãos inocentes e o coração puro” (Sl 24,3-4).