Falaram, Ouvi Dizer e a Verdade
O Diário - 15 de novembro de 2025
Aparecido Cipriano é Policial Militar aposentado e Diretor de Escola
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Certa vez, na pequena Vila das Palavras, moravam dois personagens muito conhecidos: o “Falaram” e o “Ouvi Dizer”. Eles andavam sempre juntos, cochichando pelas esquinas, saltitando de ouvido em ouvido, espalhando o que chamavam de “novidades”.
— “Falaram que a Dona Rosa foi demitida!”, dizia um.
— “Ouvi dizer que foi por causa de uma briga!”, completava o outro.
E lá iam eles, deixando atrás de si um rastro de confusão. As pessoas acreditavam sem pensar, e logo a vila inteira se enchia de desconfiança e tristeza. Amizades se quebravam, famílias se afastavam, e a paz sumia.
Até que um dia apareceu uma visitante calma e de olhar firme: a Certeza. Ela observou o estrago e resolveu procurar ajuda. Subiu o morro mais alto da vila e encontrou sua grande amiga, a Verdade, sentada ao pé de uma árvore.
— “Verdade, precisamos de você. O Falaram e o Ouvi Dizer estão enganando todo mundo.”
A Verdade suspirou, levantou-se e desceu com passos firmes.
Ao chegar, ela olhou para os dois e disse:
— “Vocês falam demais e sabem de menos. Palavras sem prova são como vento — fazem barulho, mas não constroem nada.”
O “Falaram” e o “Ouvi Dizer” tentaram se justificar, mas perceberam que ninguém mais os escutava. A presença da Verdade e da Certeza iluminava tudo, e o povo começou a enxergar o que antes parecia confuso. Desde aquele dia, na Vila das Palavras, quando alguém começava uma história dizendo “Falaram...” ou “Ouvi dizer...”, logo alguém perguntava:
— “Tem Certeza? E a Verdade sabe disso?”
E se a resposta fosse “não”, o assunto morria ali mesmo.



