Figuras de Linguagem
O Diário - 17 de outubro de 2025

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie
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Paradoxo, Antítese e Quiasmo
A eficácia de um conselho raramente reside apenas em sua lógica. Frequentemente, sua força está na arquitetura oculta da linguagem. Quando lemos a máxima “Que sempre se lembre de esquecer as coisas que o deixam triste, mas nunca se esqueça de lembrar-se das coisas que o deixam alegre.”, sentimos um impacto imediato que transcende o significado literal. De fato, em um ambiente saturado de comunicação, é crucial entender como a engenharia retórica das figuras de oposição, o paradoxo e a antítese, atua na gestão da realidade mental. Do mesmo modo, a disposição sintática da frase revela um poderoso mecanismo de memorização e convencimento, o quiasmo.
Inicialmente, a eficácia do texto reside na engenharia retórica das figuras de oposição, notadamente o paradoxo e a antítese. O paradoxo, ao pedir ao leitor que “lembre de esquecer”, força a aceitação de uma impossibilidade lógica para defender uma verdade emocional. O mesmo acontece em frases da sabedoria popular como em “perder para ganhar”. A antítese, por sua vez, simplifica o dilema humano ao contrastar diretamente o “triste” e o “alegre”, polarizando a escolha e tornando-a mais dramática. Assim, conclui-se que as figuras de oposição não são meros enfeites estilísticos, mas sim ferramentas que obrigam o leitor a priorizar ativamente a cognição e a emoção.
Para além do significado, a disposição sintática da frase revela um poderoso mecanismo de memorização e convencimento, o quiasmo. Essa estrutura de espelhamento confere ao pensamento um ritmo poético e uma simetria notável. Isso porque o quiasmo transforma uma sequência de palavras, como “lembrar de esquecer” e “esquecer de lembrar”, em uma estrutura arquitetônica, fazendo com que a mensagem se grave na memória com a solidez de um aforismo. Portanto, a linguagem habilmente moldada não apenas comunica, mas também constrói pontes entre a intenção do autor e a mente do leitor, provando que a forma é, muitas vezes, mais persuasiva do que o próprio conteúdo.
Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie