Habilitar-se ou não, eis a questão
O Diário - 22 de fevereiro de 2025

Carlos D. Crepaldi Junior. Advogado especialista em Gestão e Direito de TrânsitoEx-Conselheiro do CETRAN-SP . Diretor da ABATRAN
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Não, não estamos tratando de Hamlet, a icônica peça de William Shakespeare, mas a dúvida que assola muitos jovens hoje não deixa de ser tão profunda: vale a pena tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH)?
Habilitar-se no Brasil é um processo oneroso e desafiador. Os custos envolvidos, incluindo taxas de exames médicos, psicológicos, aulas teóricas e práticas, não saem por menos de R$ 2.000, e variam muito dependendo da região e da categoria da habilitação.
Manter-se habilitado também é um desafio. Com infraestrutura precária, assim como com comportamentos que violam as normas, o risco de multas é real. Para se ter idéia, em setembro do ano passado, o Detran-SP emitiu cerca de 418 mil notificações de suspensão ou cassação da CNH, muitas referentes a infrações cometidas em 2020 e 2021.
Esses fatores contribuem para que, cada vez menos, jovens busquem obter a CNH. Dados do Detran-SP apontam que, entre junho de 2015 e junho de 2021, houve uma diminuição de 10,5% no número de condutores habilitados na faixa etária de 18 a 30 anos, passando de 4,872 milhões para 4,356 milhões. Essa tendência reflete mudanças culturais e econômicas, com muitos jovens optando por alternativas de mobilidade ou adiando a habilitação devido aos custos envolvidos.
No trânsito diário, motoristas recém-habilitados ainda enfrentam outros desafios, como lidar com condutores impacientes e situações estressantes. Buzinas constantes, pressa e desrespeito às regras geram insegurança e mudança de comportamento, contribuindo para cometimento de infrações ou acidentes.
Diante desse cenário, a decisão de se habilitar não tem sido das mais fáceis. Por um lado o sistema de transporte público é precário, por outro é preciso uma análise cuidadosa dos custos, benefícios e da real necessidade de dirigir. Alternativas de mobilidade disponíveis podem ser um caminho, mas ainda estão distantes de nossa realidade.