Esqueci minha senha
Ícaro

O Diário - 25 de abril de 2022

Ícaro

Ícaro

Compartilhar


Imprudente é todo aquele que não age com cautela. Que não pondera enquanto respira. Alguém que no decurso de uma ação não se preocupa em se precaver do que pode ser fonte de erro ou dano. Com efeito, é uma pessoa que não examina com atenção o que pode nascer como consequência das suas ações.

 

O mal anda à espreita. Se personificado no eu ou no outro, ele não conhece o rosto, o gosto, ou os corações. A tanta gente pode abraçar, mas escolhe, principalmente, o imprudente. Assim foi Ícaro. O jovem que se tornou um exemplo sempre vivo de que o insensato é pela morte acolhido sem remorsos.

   

Ícaro está morto. Nunca voará novamente! O que contam os mitos gregos sobre o jovem que ousou voar muito próximo do sol? Essa singular história tem início com o brilhante arquiteto Dédalo tendo a ideia de construir asas com a plumagem de pássaros mortos, tanto para ele quanto para seu filho Ícaro. Com elas, ambos poderiam desafiar as leis da gravidade e assim escapar de um imenso labirinto idealizado a princípio para conter o Minotauro.

 

Como pai, Dédalo pediu a Ícaro que tomasse muito cuidado durante a fuga que empreenderiam. Isso porque as asas foram construídas a partir das velas que iluminavam o labirinto que os aprisionava. Elas eram constituídas, portanto, de cera. Esse foi o motivo pelo qual o pai aconselhou o filho a agir com prudência durante a fuga.

 

Do que se sabe é que Dédalo avisou a Ícaro para que não voasse muito baixo, pois a espuma do mar umedeceria as suas asas; tampouco voasse muito alto, senão o calor do sol as dissolveriam. Todavia, o filho não deu ouvidos aos conselhos do pai.

 

Os mitos referem realidades que podem ser percebidas no modo como se escolhe agir e assim viver. De fato, não foi a pouca idade que fez despencar Ícaro nas águas gélidas do mar Egeu, mas sim a sua incontida arrogância manifesta em uma jovial superestima de si mesmo.

 

 

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais - literatura, artes e mídias digitais