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Imprensa calada, povo mudo

O Diário - 15 de junho de 2025

Imprensa calada, povo mudo

Danilo Nunes, professor, advogado, jornalista e membro da ABC

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A imprensa com CNPJ barretense se mobilizou - por meio de nota conjunta - para defender os investimentos responsáveis de recursos públicos em empresas jornalísticas que geram trabalho e renda. Para, além disto, que consagram os direitos fundamentais de liberdade de expressão, transparência e de acesso à informação, desdobramento da Publicidade, pilar de um Estado de Direito.

De todas as palavras dos dicionários, quem me conhece de verdade sabe que, a que mais aprecio é tempo. Este fenômeno natural que a tudo responde, tudo cura e que a tudo e todos revela, é capaz de explicar meu posicionamento antigo sobre o tema. Nos quase vinte anos em que atuo na comunicação até 2020 e, agora, novamente, desde o final de 2024, na imprensa diária - no rádio, no digital e na imprensa escrita - sempre defendi a "imprensa com CNPJ", nome e sobrenome. Nestas duas temporadas, mesmo com críticas contundentes a toda sorte de temas e pessoas, nunca sofri um único processo criminal ou cível. Nunca dei uma informação sem evidências e embasamento técnico. Razão pela qual, inclusive, retornei à latinha em O Diário News sempre recordando que jornalismo de opinião não é jornalismo imparcial, mas sim, espaço para ambas as versões em respeito ao contraditório.

Informação de qualidade tem valor e o bom jornalismo também. Não tem preço, mas o outro lado da moeda é da credibilidade de quem fala, checa, confirma fontes e assina. Logo, é idissiosincrático que eu defendesse posição diferente.

Penso que o debate social e político é sobre a “imprensa sem CNPJ” que foi alimentada, irrigada, abastecida e fortalecida com verbas volumosas do erário e com informações privilegiadas por governos passados que, fragilizados pela má-administração da coisa pública e que flertaram com o autoritarismo, aproveitaram para se manter em pé, ainda que em frangalhos. Prova disto foi a rejeição altíssima de agentes políticos ainda que com consideráveis investimentos em toda sorte de canais... Sem CNPJ, claro! Assim, é preciso, além de jogar luzes a quem precisa ser responsabilizado, também direcionar o investimento de recursos públicos em comunicação para que sejam somente para a imprensa séria, profissional e de qualidade que paga impostos, gera oportunidades (e não oportunismo!), renda e retorno aos patrocinadores, com travas legais e fiscalização ostensiva.

A comunicação informal - inaugurada pelas redes sociais - empoderou pessoas que se autodenominam "formadores de opinião" com a tecnologia na palma da mão. Demonizar influenciadores não é o caminho, são profissionais necessários na comunicação pública contemporânea, mas também não é a seara correta "gastar" recursos do erário com medo da baixa popularidade em canais de comunicação não oficiais.

O debate é oportuno e providencial para estabelecer parâmetros dos investimentos públicos direcionados à imprensa com CNPJ, vedado o investimento - ainda que indireto - a "comunicadores" que achacam e depreciam quem trabalha sério e dá retorno para quem anuncia.

Na Administração Pública qualquer erro ou decisão do passado, especialmente recente, pode criar fissuras difíceis de serem geridas depois que as pessoas passam e deixam os cargos. A má-comunicação de governos anteriores faz agora com que "os bons paguem pelos maus". Cala boca custa caro e jornalismo não tem preço. A confusão entre publicidade e jornalismo, entre coisa pública e coisa privada nos trouxe até aqui, infelizmente.

Embora a política seja dinâmica, a sociedade e a comunicação sempre estarão mil passos à frente, justamente porque as coisas não devem ser confundidas (e aqui fala quem já confundiu!) e os erros servem para não serem repetidos.

No debate social sobre investimento em comunicação pública deve prevalecer o interesse público e, com todo o respeito que sempre tive e tenho para com o Poder Legislativo, limitar os investimentos, talvez, não tenha sido a melhor alternativa. Mas, teria sido criar mecanismos legais para fiscalizar o cumprimento das diretrizes constitucionais sobre o segmento.

As instituições precisam funcionar. Os dezessete membros da Câmara Municipal podem e devem legislar para aprimorar os mecanismos de investimentos, mas sem travar um dos mais importantes segmentos da atividade humana. Basta de compadrio e de confusão entre comunicação pública e promoção política.

Os chefes do Poder Executivo precisam se conscientizar de que, ao se casarem com a Administração Pública, estarão expostos às criticas – ainda que destemperadas – afinal, natural da política a oposição e como diria Nelson Rodrigues “não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”. Política é ciência humana visceral... Sem que se ataque a honra, a intimidade e a vida privada, o jogo é pesado e é preciso ter estômago de avestruz para aguentar os dissabores.

Política é um jogo de xadrez e ainda não acabou. A imprensa calada por falta de investimentos públicos em comunicação governamental é o povo mudo, a total ausência de cidadania e a desinformação como vencedora no xeque mate.