Esqueci minha senha
Inimigos da diversão

O Diário - 13 de fevereiro de 2024

Inimigos da diversão

Priscila Ventura Trucullo é professora de história da rede pública estadual; @pritrucullo

Compartilhar


Chegada a época do carnaval é comum vermos nas redes sociais e nos círculos de amizades os tradicionais “inimigos da diversão”, soltando frases como: “carnaval é coisa de vagabundo”; “o carnaval causa prejuízo econômico”; “só fazem sujeira e barulho”; “melhor seria investir em educação” etc. No entanto, ao contrário do que sinaliza o clube dos chatos que se julgam melhores ou mais trabalhadores por repudiar feriados festivos, o carnaval impacta positivamente a economia do país, gerando renda para milhares de pessoas e atraindo turistas de todo o mundo. Nada de novo no front, afinal, a festa símbolo de brasilidade já nasceu enfrentando resistências dos setores mais caretas da população, e foi, durante muito tempo, criminalizada por autoridades que, no início do século XX, enquadravam os sambistas no crime de “vadiagem”. 

A relação com as estruturas racistas da sociedade ajuda a entender preconceitos que continuam se reproduzindo em frases de repúdio ao carnaval de rua ou aos desfiles das escolas de samba. Como afirmou o historiador Luiz Antônio Simas: “num mundo cada vez mais individualista, o carnaval assusta porque afronta a decadência da vida em grupo, reaviva laços contrários à diluição comunitária, fortalece pertencimentos e sociabilidades e cria redes de proteção social nas frestas do desencanto. A festa é coisa de desocupados? Fale isso para as trabalhadoras e trabalhadores da folia. O Carnaval é também, para muita gente, tratada como sobra vivente, alternativa de sobrevivência material, afetiva e espiritual. O Brasil não inventou o carnaval, é certo. Mas o povo do Brasil o vivenciou de tal forma, na pluralidade de suas manifestações, que ocorreu o inverso: foi o carnaval que inventou um país possível e original, às margens do projeto de horror que historicamente nos constituiu. É perturbador para certo Brasil individualista, excludente, sisudo, inimigo das diversidades, trancafiado, lidar com uma festa coletiva, inclusiva, alegre, diversa e rueira. Tenso e intenso como lâmina e flor, o Carnaval assusta porque nos coloca diante do assombro, da vida.” Deste modo, evoco-os a abandonar este medo, se jogar na folia e viver com alegria! Viva o carnaval!