No último dia 26, o Grêmio Literário e Recreativo de Barretos comemorou seus 115 anos de fundação. Em meu livro “De onde cantam as cigarras”, lançado há 5 anos, eu tive a honra de escrever as mais antigas histórias desta trajetória centenária.

Lembro-me da euforia em pesquisar e identificar os personagens mais antigos do clube, antes esquecidos. Ao me deparar com o rico acervo fotográfico do Grêmio, com muito estudo e paciência, aos poucos, pude dar identidade àqueles rostos e os eventos ganharam contexto e datas. Assim, foi possível publicar um livro com uma rica coleção de fotografias devidamente identificadas e contextualizadas aos leitores curiosos.

Dentre tantos rostos, me lembro daquele que mais me causou curiosidade. Havia uma série fotográfica de retratos individuais, então, percebi que eram fotos de alguns dos 96 fundadores do Grêmio. Apenas uma mulher figurava entre eles. Como somente uma mulher havia assinado a ata de fundação, suspeitei que fosse justamente ela: Maria Isoleta Carneiro Vieira. Ela era esposa do dr. Antonio Olympio Rodrigues Vieira, que estava fora da cidade no dia da fundação do Grêmio. Encontrei uma bisneta dela, Maria Olímpia Bulle de Queiroz e Silva, e comparando fotografias foi possível a confirmação. Tínhamos o retrato da única mulher fundadora do clube! 

Maria Isoleta, que foi primeira-dama em Barretos nas primeiras décadas do século XX, pertencia à tradicional família Carneiro, casou-se com Antonio Olympio em 1896 e desta união nasceu sua filha Maria Olímpia. Antes de estar presente na fundação do Grêmio, ela viveu em Portugal nos primeiros anos de 1900. Interessante é que pesquisando a sua vida, foi possível conhecer outra mulher interessante, sua tia, a educadora e intelectual Marianna Carmelitana de Arantes, figura que criou Isoleta e lhe rendeu grandes influências. Mas sobre esta, eu prefiro dedicar outro texto, bem especial.

A descoberta de Isoleta na fundação do Grêmio, em assinatura e imagem, é só um exemplo de quantas camadas essa centenária história pode revelar. Depois de Isoleta, foram poucas as mulheres que destacaram suas assinaturas no clube, e cabe à História encontrá-las e destacá-las. Onde procurá-las? É só folhear o livro, lá elas estão.