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Mariano e Isolda, pai e filha

karla-armani-medeiros - 16 de agosto de 2022

Mariano e Isolda, pai e filha

PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani

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Notável o fato de que a primeira barretense mulher a se formar como advogada, em 1938, era negra. Durante o regime ditatorial do Estado Novo, formava-se, na tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, turma 107, uma barretense de pele morena; negra: Isolda de Morais Dias, nascida a 2 de agosto de 1911.

Seu pai era um homem letrado e conhecido: o médico maranhense Raymundo Mariano Dias, que, chegado a Barretos em 1908, atuava como operador e parteiro, formado em Farmácia pela Faculdade de Medicina da Bahia e em Medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Ícone, participou da política ao lado Antônio Olympio, escrevia à imprensa, foi o primeiro presidente eleito no Grêmio Literário e Recreativo, venerável da loja maçônica Fraternidade Paulista, diretor do primeiro hospital de Barretos, a “Casa de Caridade”, membro atuante nas casas espíritas e fundador do asilo para “alienados mentais”. Mas, o desfecho de sua vida foi trágico, uma vez que foi brutalmente assassinado em 1926 nas ruas centrais de Barretos.

A pele morena (como provavelmente se pensava e se dizia na época) de Mariano nunca foi fator comentado no memorialismo ou nas fontes da época. Ele, nascido em 1881, em São Vicente de Ferrer (MA), chegou a Barretos como médico e circulou por entre a elite letrada, a ponto de se tornar presidente do Grêmio – um clube com predominância de pessoas brancas, onde negros praticamente não entravam. Quando foi assassinado, por questões de terras, coube à esposa Judith, a missão de cuidar dos seis filhos. E todos completaram o ensino universitário.

Isolda, então bacharel, nos anos 1940, foi noticiada com galhardia pelo jornal “Correio de Barretos” como a primeira mulher paulista a candidatar-se a um concurso do Ministério Público. Logo, ela foi Procuradora Estadual de São Paulo, morando na capital e em Campinas, onde faleceu a 10/5/1995. Mariano e Isolda, pai e filha, são personagens que ainda tem muito a contribuir (e a colorir) à história da nossa cidade.