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Monumento ao Boi Soberano: cultura ou incômodo

O Diário - 5 de junho de 2025

Monumento ao Boi Soberano: cultura ou incômodo

Aparecido Donizete Alves Cipriano Mestre em Educação (UNESP) Militar aposentado, Diretor de Escola

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Barretos, cidade reconhecida internacionalmente por sua tradição na cultura sertaneja e na pecuária, acaba de receber um símbolo à altura de sua identidade: o Monumento ao Boi Soberano. Uma obra que representa, com imponência e fidelidade, a figura do boi — animal central para a história, economia e cultura local.

Contudo, em vez de celebração, a arte tem sido alvo de críticas que beiram o absurdo. Alguns parecem mais incomodados com o fato de que a escultura representa, com naturalismo, a anatomia real do animal — incluindo o saco escrotal — do que interessados em compreender o simbolismo e o valor histórico da obra.

Pergunta-se: esperavam o quê? Um boi vestido? Uma estátua com fraldas? Castrar o animal? O objetivo da escultura não é mascarar a natureza do animal, mas sim retratar com fidelidade e dignidade aquilo que o boi representa para o povo de Barretos — soberania, força, tradição.

Enquanto outros municípios investem em arte e cultura como forma de fortalecimento da identidade e promoção do turismo, aqui ainda há quem insista em olhar para a arte com pudor infantil ou moralismo deslocado. É preciso entender que arte não se reduz ao gosto pessoal ou ao filtro da moralidade alheia. Ela provoca, representa, comunica. O Boi, como símbolo, não merece ser diminuído a uma parte de sua anatomia, mas enaltecido por seu conjunto: uma escultura que honra nossa história, valoriza nossa cultura e tem tudo para se tornar ponto turístico relevante — desde que saibamos olhar com maturidade e orgulho, não com preconceito ou vergonha.

Outra crítica ao Monumento demonstra não apenas desconhecimento artístico, também desinformação sobre a gestão de recursos públicos. Muitos reclamam do investimento na obra sem saber que o valor utilizado provém de verba carimbada, ou seja, recursos oriundos de instâncias superiores do governo, destinados exclusivamente à promoção cultural e turística. Esses recursos não podem ser remanejados para outras áreas, como saúde ou educação, sob pena de devolução aos cofres da União ou do Estado. 

Em vez de rir ou criticar, que tal refletir e valorizar?