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Museu ambulante

O Diário - 25 de setembro de 2025

Museu ambulante

Cláudia Lima

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Sou um museu ambulante. Guardo livros, chaveiros, quadros, pratos, xícaras, abajures, vasos, roupas, fotos, móveis. Guardo sofás, tapetes, máquinas de costura, colares, anéis. Temos uma tradição de não estragar nossas coisas, então, quase tudo que tenho tem bem mais de 20 anos, pasme. Porque trocaria uma coisa em perfeito estado e com muito sentido por outra nova? Isso não entra na minha cachola. Veja só, tenho dois micro-ondas: um eu comprei logo que comecei a atender como cirurgiã-dentista. Foi uma das primeiras coisas que comprei. Tem 30 anos, essa potência tecnológica. E funciona muito bem. Os botões estragaram duas vezes, isso tem uns anos. Estão ótimos. E o micro-ondas da minha mãe? Foi meu primeiro presente à ela assim que me formei. É anterior ao meu. Está intacto. 

Admiro atenta essas relíquias da minha história de vida. Não são iguais como se estivessem no mesmo lugar de décadas atrás, mas me lembram que estou viva.

Sou um museu ambulante. Guardo vida dentro de mim.