Esqueci minha senha
Na companhia dos livros

O Diário - 2 de dezembro de 2025

Na companhia dos livros

KARLA ARMANI MEDEIROS, é historiadora e cadeira 7 da ABC.@profkarlaarmani

Compartilhar


Os livros são os bons e velhos companheiros da humanidade.

E quem os lê, desdobra-se.

Quem tem sempre à mão um livro, nunca está sozinho. Ter a companhia de um livro é dialogar mentalmente com o desconhecido. É ter por onde abraçar os dedos. É deixar um pouco de si, organicamente, nas páginas viradas. É levar para si uma experiência que não é tua. É enriquecer vocabulário e ampliar visão de vida. É ter a chance de conversar com as grandes mentes da humanidade, rompendo o tempo e o espaço.

Sócrates, o grande mestre do diálogo, viveu no momento do surgimento dos livros na Grécia, e chegou a criticá-los enxergando-os como mera cópia de palavras ditas, sem a capacidade inteligente da conversação. Para ele, o homem perderia a memorização e o poder de dialogar ao ler sozinho um livro. Há de se entender que, à época de Sócrates, o conhecimento era construído a partir da memória e da arte da oratória e da declamação. Porém, o livro mostrou-se como tecnologia de construção do conhecimento a partir de seu poder de registro e de reflexão. Se não fossem os livros de Platão, como a humanidade teria conhecido e desdobrado a célebre filosofia de Sócrates? O registro literário não é fonte única para a História, mas foi e é imprescindível para ela. 

            Em um dos livros mais fascinantes que já li, pude ler algo que, de tão lindo, merece ser dividido: “Os livros são os filhos das árvores, que foram o primeiro lar da nossa espécie e, talvez, o mais antigo receptáculo das palavras escritas” (Irene Vallejo, O infinito em um junco, p. 303). A autora se referia à etimologia da palavra “livro”, que vem do latim “liber”, termo que originariamente dava nome à casca da árvore, e ao fato de os romanos da Antiguidade escreverem em casca de árvores, antes de conhecerem os rolos egípcios. Particularmente, acho encantador o fato de os primeiros livros da humanidade terem vindo do junco, dos papiros e das árvores. Da natureza.

            Desde seu início, a literatura é fonte para o conhecimento, experiência para o não vivido, caminho para o diálogo e registro para o tempo. Mas, sobretudo, a literatura é um guia para a alma humana. E ver-se na companhia de um livro é permitir-se ser portal.