“Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55)
O Diário - 1 de maio de 2025

“Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55)
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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.
A data de hoje comemora o Dia Internacional do Trabalhador, festejado em quase todos os países do mundo. A homenagem remete ao primeiro dia do mês de maio de 1886, quando, na cidade norte-americana de Chicago, iniciou-se uma greve em busca de melhores condições de trabalho e, principalmente, da redução da jornada diária de 17 para 8 horas. Às vésperas de se completarem seis décadas dessa comemoração civil, em maio de 1955, o Papa Pio XII “cristianizou” essa celebração, instituindo a devoção a São José Operário, com o intuito de reconhecer e promover a dignidade humana por meio do trabalho. “Queremos reafirmar, de forma solene, a dignidade do trabalho, a fim de que inspire, na vida social, as leis da equitativa repartição de direitos e deveres”, afirmou o Papa em seu discurso na Praça de São Pedro. A Doutrina Social da Igreja destaca alguns aspectos fundamentais para a dignidade do trabalho. Em primeiro lugar, ele é visto como um ato de corresponsabilidade com Deus, que chamou o ser humano a “cultivar e guardar” a criação (cf. Gn 2,15). Em segundo lugar, o trabalho deve respeitar a dignidade da pessoa humana, que é, antes de tudo, uma pessoa — e não uma máquina ou um instrumento de produção. Em terceiro lugar, o trabalho contribui para a realização pessoal e, portanto, promove o crescimento humano, intelectual e espiritual do indivíduo. Por fim, o trabalho deve favorecer, e não prejudicar, a vida familiar, promovendo o seu sustento e, mais do que visar ao lucro, deve priorizar o bem comum e a solidariedade entre os povos. É por isso que a Igreja honra São José como patrono dos trabalhadores, das famílias e da Igreja Universal, destacando a importância de sua missão na história da salvação. Como trabalhador, sustentou a Sagrada Família com o fruto de seu esforço, tornando-se exemplo de dedicação e responsabilidade. Afinal, no Evangelho de Mateus Jesus é reconhecido pela profissão de seu pai nutrício como “o filho do carpinteiro”. Na simplicidade dessa designação, há algo profundamente verdadeiro: o trabalho não é apenas uma ocupação — é vocação, identidade, serviço. Ser “o carpinteiro”, “o pedreiro”, “a costureira” é uma forma de dizer: “eu existo para algo. Eu contribuo com o mundo. Eu sirvo com aquilo que sei fazer.” Jesus, sendo filho do carpinteiro, também se identificou com o ofício de pastor: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10,14). Um ofício laborioso, porém, pouco prestigiado em seu tempo, mas que exprime de maneira admirável sua identidade e missão. Resta-nos perguntar: por qual ofício sou reconhecido? Tenho trabalhado dignamente? Pois é no trabalho que se revela a nossa vocação e missão neste mundo. Que, a exemplo do Santo Padre, o Papa Francisco, sejamos dignos operários na vinha do Senhor (cf. Mt 20,1-16).