Narciso Júnior
O Diário - 27 de maio de 2025

PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani
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Precisamos falar sobre Narciso Antônio Júnior e os anos 1940.
Filho de pais chineses, Narciso Júnior era dentista e jornalista em Barretos; antes havia clinicado em Colina. Bem articulado em oratória, envolvia-se nos círculos políticos e diplomáticos, além de ser redator no jornal “Correio de Barretos”. Usava sua pena para escrever sobre a China, à época governada por Chiang-Kai-Chek, tanto que, em 1942, na capital paulista, Narciso foi quem recepcionou e entrevistou o embaixador chinês Chen Chick durante sua viagem ao Brasil; em plena 2ª Guerra Mundial.
Antes disso, porém, em 1941, Narciso viveu uma difícil passagem em Barretos, que lhe marcou por toda a vida: ele foi o primeiro jornalista a ser preso pela Lei de Imprensa do Estado Novo. Tudo o que saia em jornal era terreno fértil ao rígido controle desta lei, em vigor durante a ditadura de Getúlio Vargas em nome do nacionalismo.
A prisão de Narciso Jr ocorreu por conta de um protesto que ele fez contra o ato do delegado de Barretos, pois, a pretexto de jogos de azar na sede do Barretos Futebol Clube, ele ordenou a incineração de todos os papéis e documentos daquela tradicional entidade esportiva, incluindo livros-ata e documentos. (E de fato, caro leitor, não temos fontes históricas do BFC por conta disso). Em assembleia, embora o jornalista tivesse explicado que não era contra a pessoa do delegado, ele protestou contra o ato da autoridade e pediu que isso fosse constado em ata. Porém, no jornal “A Semana”, o protesto saiu com outro tom e o resultado disso foi um processo contra o jornalista. Em setembro de 1942, ele foi condenado a seis meses de prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional por delito de injúria contra a autoridade constituída. O Correio de Barretos publicou abaixo-assinado solicitando ao presidente Vargas o indulto ao jornalista, atribuindo o ocorrido a inimizades e reforçando o pensamento nacionalista de Narciso. Mesmo assim, ele foi preso e apenas voltou a Barretos no ano seguinte, onde foi recepcionado por amigos. Somente em 1947, ele foi julgado e absolvido, num julgamento importante à história barretense (narrado em meu livro da comarca de Barretos).
É sempre tempo de se falar sobre a liberdade da imprensa e sobre Narcisos.