O Brasil que (não) lê – Parte 1
O Diário - 29 de maio de 2025

Kleber Aparecido da Silva é Professor Associado 4 do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais e em Linguística na Universidade de Brasília. Foi Visiting Scholar em Stanford University, Penn State University e CUNY Graduate Center, em New York. É Bolsista em Produtividade em Pesquisa pelo CNPq
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Pesquisas realizadas na área da Educação (Crítica), Pedagogia e Linguística Aplicada (Crítica) atestam que um dos grandes problemas sociais no Brasil é o analfabetismo. Este mal radicado na sociedade brasileira, praticamente é tão antigo quanto o próprio país, e infenso às diversas campanhas de alfabetização que surgem no bojo de políticas educacionais. Neste contexto, este artigo visa trazer à baila reflexões críticas acerca das contribuições dos estudos da linguagem e da educação visando à (re)construção de uma política de alfabetização e de multiletramentos, alicerçada em paradigmas críticos e/ou decoloniais.
O caráter perverso e persistente do analfabetismo brasileiro, situa-se numa matriz sócio-histórico e tem como uma das suas bases a ecologia sociolinguística da comunidade de fala brasileira. Para isso, é necessário levarmos em consideração informações censitárias que dão conta das dimensões e características deste problema no contexto. Renato Casagrande, presidente do Instituto Casagrande e referência em práticas educativas inovadoras e no desenvolvimento de Instituições de Educação Básica e Superior, no seu artigo intitulado “O Brasil e o labirinto do analfabetismo funcional: diagnóstico e urgências”, publicado no Jornal Correio Braziliense, em 11 de maio de 2025, afirma que o “Brasil continua preso a dados alarmantes: 29% da população entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional. Isso significa que, embora saibam ler palavras e frases simples, essas pessoas não conseguem interpretar textos mais complexos, compreender instruções básicas ou realizar operações matemáticas elementares. Trata-se de uma alfabetização incompleta, que limita o exercício da cidadania, o acesso ao trabalho digno e o desenvolvimento do pensamento crítico”.
Este dado, divulgado pela edição mais recente do “Indicador de Alfabetismo Funcional” (Inaf, 2025), está estagnado desde 2018, revelando o colapso silencioso da educação brasileira. Essa realidade é resultado de fatores estruturais que exigem enfrentamento com seriedade, planejamento e proposições políticas. Entre as principais causas estão, segundo Renato Casagrande (2025), “(...) a baixa qualidade do ensino — evidenciada pelo Saeb (2023), que mostra que a maioria dos alunos do ensino médio não atinge o nível adequado em língua portuguesa — e a evasão escolar. Segundo o IBGE (2022), 9,1 milhões de brasileiros abandonaram a escola antes de concluir a educação básica. Entre os jovens de 15 a 17 anos que deixaram de estudar, mais da metade sequer completou o ensino fundamental. A escola não tem conseguido reter nem motivar seus estudantes”.