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O Brasil que (não) lê!  – Parte 2

O Diário - 11 de junho de 2025

O Brasil que (não) lê!  – Parte 2

Kleber Aparecido da Silva é Professor Associado 4 do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais e em Linguística na Universidade de Brasília. Foi Visiting Scholar em Stanford University, Penn State University e CUNY Graduate Center, em New York. É Bolsista em Produtividade em Pesquisa pelo CNPq

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O enfrentamento desse cenário de um Brasil que não lê exige, a meu ver, recolocar a alfabetização como prioridade nacional, ou seja, a alfabetização tem que fazer de um projeto trandisciplinar de educação de base no Brasil. Para tal intento, é necessário, a meu ver, a (re)construção de projeto educacional que: i) invista na formação inicial e continuada dos/as professores/a; ii) garanta  bibliotecas e mediadores de leitura nas escolar; iii) revise os currículos com foco em competências linguísticas e matemáticas – pedagogia da alfabetização/letramento e pedagogia dos multiletramentos; iv) adote políticas que garantam a permanência dos alunos na escola com propósito e pertencimento.

É urgente, segundo Paula Cobucci e Veruska Ribeiro, no seu livro intitulado Educação Linguística para Jovens e Adultos, e publicado pela Editora Contexto em 2023, fortalecer a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e criar programas de alfabetização digital que assegurem o acesso e o uso crítico das tecnologias. As autoras defendem que a educação linguística para esse público deve ser um processo inclusivo, que (re)integre conhecimentos, gêneros textuais e práticas significativas. Para isto, é necessário o enfretamento das desigualdades regionais com políticas públicas específicas, com maior presença do Estado na elaboração, desenvolvimento e implementação de políticas educacionais. 

  O analfabetismo funcional é o porta retrato de um país que fracassou em garantir o direito de aprender, mas esse fracasso não pode ser naturalizado. Com compromisso, coragem e agentividade, é possível mudar esse quadro e garantir que todos tenham acesso à palavra, à leitura e à compreensão — bases de uma democracia real. A frase de Darcy Ribeiro “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é projeto”, sintetiza a filosofia de governos que nos assolam desde o golpe do impeachment: a dita crise, criada de fora para dentro, é um projeto de desconstrução, com início, meio e fim, que percorre todos os vãos da vida nacional, mas se concentra na inviabilização do futuro do país, cortando de vez as possibilidades de retomada do desenvolvimento, pois todas elas dependem de ensino, pesquisa, extensão, inovação e internacionalização.