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O grau dos substantivos

O Diário - 1 de novembro de 2025

O grau dos substantivos

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie

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Para além do tamanho

“Que careta bonitinha!” ou “Não aguento mais aquela gentalha!”. Essas expressões, tão espontâneas, revelam que o grau do substantivo é um recurso da língua que transcende a mera indicação de variação de tamanho, mobilizando a morfologia para injetar a subjetividade do emissor na mensagem. O estudo desse fenômeno passa, necessariamente, por dois pontos cruciais: a capacidade dos sufixos de carregarem uma função expressiva de afeto ou desprezo, e a complexidade das regras gramaticais em torno das formas sintéticas, que frequentemente se desviam do significado literal.

As pessoas comumente exploram o grau do substantivo para comunicar intenções afetivas ou depreciativas, colorindo o conteúdo de sua comunicação. Por exemplo, o sufixo “-ona” pode designar uma “mulherona” com admiração, ao passo que “-alha” em “gentalha” expressa desprezo. Já a palavra “mãezinha” exprime carinho pela mãe, enquanto “livreco”, depreciação por um livro. Tais usos demonstram como a emoção é tecida na própria estrutura das palavras. Essa dimensão emocional prova que o grau é um poderoso recurso estilístico, capaz de transmitir impressões e valores morais sem a necessidade de adjetivos explícitos.

A formação do grau por sufixos, por sua vez, nem sempre resulta no sentido esperado de aumento ou diminuição, como nos substantivos “portão” e “cartilha”. Contudo, a maior complexidade surge na flexão de número: o plural de diminutivos, como de “papel” para “papeizinhos”, exige uma regra de flexão mais elaborada. Essa particularidade gramatical, que demanda conhecimento da norma-padrão do português, ilustra como a morfologia da língua pode ser um sistema engenhoso. Portanto, desvendar esses pormenores permite ao escritor transformar uma simples palavra em um veículo potente de afeto, ironia ou crítica.

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie