O Padre Influenciador nos Dias de Hoje
Diocese de Barretos - 18 de dezembro de 2025
Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos
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Nos últimos anos, a presença de sacerdotes nas redes sociais deixou de ser exceção para se tornar uma tendência robusta e, por vezes, dominante na forma como parte da Igreja Católica se comunica. Surgiu assim a figura do padre influenciador — um sacerdote que, além de suas funções ministeriais tradicionais, se estabelece como produtor de conteúdo digital, com ampla visibilidade e capacidade de mobilizar massas. A identidade do presbítero é, essencialmente, cristocêntrica e eclesial: ele existe para “servir”, não para se “projetar”. O PresbyterorumOrdinis recorda que o sacerdote deve ser configurado a Cristo, “Bom Pastor”, conduzindo o povo de Deus e sacrificando-se por ele. Entretanto, o ambiente digital tende a deslocar o eixo da missão: da centralidade de Cristo para a centralidade da personalidade; da liturgia e sacramentos para o conteúdo e engajamento; da vida comunitária para o seguimento individualizado. Nesse contexto, a ordenação corre o risco de ser lida menos como um ministério sacramental e mais como uma marca pessoal, perdendo a profundidade teológica que a sustenta. A lógica das redes sociais privilegia aquilo que é rapidamente consumível, visualmente marcante e emocionalmente intenso. Isso gera uma tentação: transformar a liturgia — ápice da vida da Igreja — em cenário e performance. Quando a celebração eucarística é adaptada para gerar conteúdos, likes e visibilidade, corre-se o perigo de uma inversão grave: a liturgia, que deveria conduzir ao mistério, passa a ser conduzida pela estética; o sacerdote, que deveria desaparecer para que Cristo apareça, torna-se protagonista. A crítica teológica aqui não é contra o uso de meios modernos, mas contra o risco de instrumentalização do sagrado por dinâmicas de autopromoção. Há padres que usam com profundidade e sabedoria as redes sociais para evangelizar, formar, catequizar e dialogar com quem está distante da fé. Este é um uso legítimo e fecundo da tecnologia. Entretanto, há uma fronteira tênue entre evangelização e entretenimento espiritual. O conteúdo religioso, quando moldado pela lógica dos algoritmos, tende a tornar-se: simplificado; emocionalmente apelativo; desprovido de profundidade teológica; subjetivo e centrado no “eu penso”, em vez do “a Igreja crê”. Assim, o sacerdócio pode involuntariamente se transformar em uma espécie de “carreira de influência espiritual”, com rivalidades, polêmicas, seguidores e patrocinadores. Outro ponto crítico é a criação de autoridades eclesiais paralelas. Um padre influenciador pode, pela força de sua visibilidade, tornar-se mais relevante para milhares de fiéis do que seus próprios pastores legítimos — párocos, bispos, comunidades locais. Isso gera tensões: individualização da fé; consumo religioso sem pertencimento; discursos particulares substituindo o magistério; conflitos entre “o padre da internet” e “o padre da paróquia”. O Papa Francisco frequentemente adverte contra o “narcisismo espiritual” e o “clericalismo midiático”. As redes sociais podem inflar o ego do sacerdote e criar dependência emocional de aprovação pública O sacerdote, por sua vez, deve recordar diariamente que sua missão não é conquistar seguidores, mas fazer discípulos; não é gerar engajamento, mas conduzir ao encontro com o Deus vivo; não é aparecer, mas tornar Cristo visível. A influência verdadeira do presbítero não está na tela, mas na graça. Não no algoritmo, mas no Evangelho. Não na popularidade, mas na fidelidade ao Senhor.



