O Pobre Lázaro e o Cristo Chagado: o rosto sofredor de Deus
Diocese de Barretos - 16 de outubro de 2025

O Pobre Lázaro e o Cristo Chagado: o rosto sofredor de Deus
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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.
A parábola de Jesus sobre o pobre Lázaro e o rico epulão nos apresenta um contraste radical: de um lado, a opulência sem compaixão; de outro, a miséria marcada pelas feridas. À porta do homem rico, Lázaro jaz faminto, coberto de chagas, desejando apenas as migalhas que caíam da mesa. Ninguém o socorre, a não ser os cães que lambiam suas feridas. Esse Lázaro anônimo — cujo nome, no entanto, significa “Deus ajuda” — torna-se ícone dos pobres esquecidos, dos marginalizados e dos que carregam em seus corpos as marcas do sofrimento. Ao contemplar a figura de Lázaro, não podemos deixar de ver nela o reflexo do próprio Cristo, que, em sua Paixão, se fez pobre e desprezado: Lázaro está deitado à porta, rejeitado. Jesus também foi rejeitado e lançado fora das muralhas da cidade para ser crucificado (Hb 13,12). Lázaro está coberto de chagas. Jesus, no caminho do Calvário, teve seu corpo dilacerado pelos açoites, espinhos e pregos. Lázaro deseja migalhas. Jesus, pendente da cruz, clama: “Tenho sede” (Jo 19,28). O pobre da parábola é, portanto, uma profecia viva daquele que, sendo Deus, esvaziou-se e assumiu a condição de servo (cf. Fl 2,7). Na parábola, depois da morte, Lázaro é levado pelos anjos ao seio de Abraão, enquanto o rico é condenado ao tormento. A lógica se inverte: quem parecia insignificante é acolhido; quem parecia poderoso é rebaixado. Essa inversão revela a justiça de Deus, que se coloca sempre ao lado dos pobres e sofredores. Do mesmo modo, no Cristo crucificado contemplamos o juízo de Deus sobre o mundo: a glória não está na riqueza, no poder ou no prestígio, mas na entrega, no amor que se faz dom até o fim. A comparação entre o pobre Lázaro e o Cristo chagado não é apenas uma meditação espiritual, mas um chamado concreto. Jesus nos disse: “Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). Assim, cada Lázaro que encontramos hoje — os sem-teto, os famintos, os enfermos, os abandonados — é o próprio Cristo que continua a estender as mãos feridas. Ignorar o pobre é, em última instância, ignorar o Senhor. O pobre Lázaro da parábola e o Cristo chagado do Calvário se encontram no mesmo mistério: o sofrimento humano iluminado pelo amor divino. Ambos nos revelam que Deus se identifica com os pequenos, os feridos, os descartados. A parábola de Lázaro e a paixão de Cristo não são histórias do passado, mas janelas abertas para o presente: ainda hoje, o Senhor nos espera nos lázaros de cada esquina, pedindo não as migalhas de nossa indiferença, mas o pão de nossa compaixão.