O Varzeano barretense está na UTI
O Diário - 14 de maio de 2025

Aparecido Cipriano (um amante do futebol amador barretense)
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Já foi tempo em que domingo de manhã era sagrado em Barretos. Era dia de Varzeano. Acordar cedo, vestir a camisa do time do bairro, calçar a chuteira (às vezes emprestada), e partir com o coração na ponta da chuteira para defender as cores da rua, da vila, do time que carregava a história do avô, do tio ou do amigo que já pendurou as chuteiras há tempos.
Naquele tempo, o Campeonato Varzeano de Barretos era mais do que futebol — era identidade, era vida pulsando no barro do campo, era rivalidade que se resolvia (quase sempre) na bola. Tivemos dias de glória. Série A com 20 times. Série B com outros 20. Mais o Rural, o Plínio aos sábados, o Torneio Jadair de Barros... Era futebol pra todo canto, pra todo gosto. E que times já tivemos, o que mais importava era o time que representava um bairro, um local, times como: Portuguesa, Magric, Os Periquitos, Frigorífico, ADPM, Barretos 2, Camarões, Ibirapuera, Bom Jesus, São Bento, Vila Marília, Exposição, Atlético Dom Bosco, América, Fortalezza, Café Ivaí, Jockey Club, Interlagos, Independente, Vila Baroni, Vila Nogueira, Arsenal, Esperança, Vila Rios, entre outros...... Só de lembrar dá um aperto no peito e um arrepio na nuca.
Hoje, o que resta? O Varzeano agoniza. O que já foi pulmão do futebol de Barretos agora respira por aparelhos. Antes, brigar por uma vaga entre os 8 melhores era guerra de titãs. Hoje, juntar 7 times para a Série A virou milagre de bastidores. Série B tem mais times, mas é vista como «o que sobrou», como se fosse degrau de quem nem quer subir.
E se o problema for justamente essa divisão? Será que não é hora de parar de separar, de rotular, de encolher o campeonato até ele desaparecer? Talvez seja tempo de unir. Um campeonato só. O Campeonato Amador de Barretos. Sem Série A ou B. Só times com vontade de jogar. Sem medo de levar goleada — porque no futebol, como na vida, todo mundo já foi saco de pancada um dia. O que importa é estar no jogo.
A maioria dos campos precisam de cuidados, mas ainda estão lá. A trave, precisa de uma pintura, porém ainda espera o chute. As beiradas dos campos ainda ecoam os gritos de um tempo em que ser da várzea era ser alguém. Ainda dá tempo de salvar o Varzeano. Basta querer.