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Oftalmologistas esclarecem sobre riscos oculares com uso de medicamentos Ozempic® e Mounjaro®

O Diário - 30 de novembro de 2025

Oftalmologistas esclarecem sobre riscos oculares com uso de medicamentos Ozempic® e Mounjaro®

SAÚDE: Os oftalmologistas dra. Daniela Monteiro de Barros e dr. Fernando Heimbeck, especialistas em oftalmologia pelo Wills Eye Hospital, no Estados Unidos, são orientadores da Liga Acadêmica de Oftalmologia da Facisb (laof)

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Especialistas em saúde ocular apontam situações relacionadas aos medicamentos GLP-1 

Os oftalmologistas Dr. Fernando Heimbeck e Dra. Daniela Monteiro de Barros explicam o que são os medicamentos GLP-1, como Ozempic® (Semaglutida) e Mounjaro® (Tirzepatida). 

Segundo eles, os agonistas do receptor GLP-1 são usados para diabetes tipo 2 e obesidade. No caso do Ozempic® (Semaglutida) o medicamento atua exclusivamente no receptor GLP-1. Já o Mounjaro® (Tirzepatida) é considerado uma “terceira via” por ter ação dupla: age nos receptores GLP-1 e também GIP (peptídeo inibitório gástrico). Essa ação combinada potencializa o controle metabólico e explica a perda de peso ainda mais robusta observada em estudos clínicos. 

Na entrevista a seguir, os médicos orientam sobre as implicações que o uso desses medicamentos podem ter em relação aos riscos oculares.

O DIÁRIO: Esses medicamentos aumentam ou diminuem o risco de glaucoma?

DRA. DANIELA: Um estudo publicado em fevereiro de 2025, na revista Ophthalmology, avaliou pacientes sem diabetes e demonstrou que usuários de agonistas GLP-1 apresentaram redução do risco de glaucoma de ângulo aberto e de hipertensão ocular. Para os especialistas, esse achado sugere possível efeito protetor, possivelmente associado à redução da pressão intraocular vista em modelos experimentais.

O DIÁRIO: Então por que surgiram alertas envolvendo o nervo óptico?

DR. FERNANDO: Apesar dos dados positivos sobre glaucoma, estudos observacionais identificaram um possível aumento no risco de neuropatia isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA) em usuários de semaglutida e tirzepatida. Uma análise publicada em JAMA Ophthalmology (2024) encontrou maior incidência relativa de NOIA-NA em usuários de Ozempic®, embora o risco absoluto permaneça baixo.

O DIÁRIO: NOIA-NA é o mesmo que neurite óptica?

DRA. DANIELA: Não. A neurite óptica é inflamatória, geralmente ligada a doenças autoimunes. A NOIA-NA é um evento isquêmico, sem inflamação. Os estudos envolvendo GLP-1 até agora relatam principalmente quadros isquêmicos, não neurite desmielinizante.

O DIÁRIO: Os casos são frequentes?

DRA. DANIELA: Felizmente, não. Pesquisas do Massachusetts Eye and Ear (2023–2024) mostraram aumento relativo, mas reforçam que esses eventos continuam raros. Mesmo assim, a Agência Europeia de Medicamentos passou a reconhecer a NOIA-NA como efeito muito raro associado à semaglutida.

O DIÁRIO: Quem deve ter mais cautela?

DR. FERNANDO:  Os pacientes com fatores vasculares — apneia do sono, hipertensão, diabetes mal controlado, disco óptico em risco ou história prévia de NOIA-NA — demandam vigilância maior. Qualquer perda visual súbita precisa de avaliação imediata.

O DIÁRIO: Os benefícios ainda superam os riscos?

DRA. DANIELA : Sim. Os benefícios metabólicos, cardiovasculares e no peso corporal justificam o uso, desde que o paciente seja monitorado. O risco ocular existe, mas é raro e não contraindica o tratamento.

O DIÁRIO: O que ainda falta esclarecer?

DR. FERNANDO: Ensaios clínicos maiores e comparações diretas entre Ozempic®, Mounjaro® e futuros agentes. Até lá, a recomendação dos especialistas permanece: orientação médica, atenção aos sintomas visuais e acompanhamento oftalmológico periódico.