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“Os terços, os mastros” e as tradições

O Diário - 29 de fevereiro de 2024

“Os terços, os mastros” e as tradições

Valdir Venâncio

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Lendo o artigo da Professora  e Historiadora Karla Armani de 06/02/2024, veio-me recordações da infância e adolescência. Nossas famílias eram muito festeiras (avó e tias).     Minha sogra e prima Anolina rezava para Santo Antonio no dia 12/06/, Tia Bita rezava no dia 13/06, Tia Luzia rezava para São João, mas sempre no sábado antes ou após o dia 24/06 e a tia Leonor no dia 29/06 para os três Santos, a casa ficava cheia, o terço era demorado e ainda no final a ‘ladainha’, que ficou conhecida como a ‘ladainha’ da  Rute.

Nos intervalos dos mistérios, eram ‘soltos’ os foguetes e na hora de ´levantar’ os mastros eram cantadas músicas em louvor aos ‘santos’ e soltavam bombinhas e muitos foguetes, hoje está proibido e não se houve mais  ‘fógos’ nos festejos juninos.

Lembro de 1957, quando morávamos na fazenda ‘Brejinho’, meus pais rezaram um terço, e veio muita gente, inclusive o Osmar, o Zé Gonçalves e o Tonhão para tocar no baile. Na hora do terço e ao levantar o mastro foram soltos muitos fogos, rojões e busca-pés e como era área aberta, pasto com árvores e coqueiros, um dos rojões caiu em cima de um coqueiro, o fogo espalhou pelo pasto e os homens saíram correndo para apagar o fogo no capim e evitar um incêndio na fazenda...

Em 1968, mudamos para cidade e fomos morar na vila América perto do ‘campo da Potuguesa’, era mês de junho, todos os dias à noite eu saia para ver onde tinha ‘terços’, eu chegava de ‘bicão,’ esperava o final para a hora dos quitutes e tomar chá de chocolate e comer bolos de fubá, uma delícia... era como um primo de meus pais dizia: “para velórios e terços não precisa ser convidado e só chegar e rezar”

Detalhes: na hora de levantar os mastros o pessoal cantava e soltava foguetes e colocavam as velas no  “pé” do mastro e socavam o mastro com um soquete de pau.   Os mais velhos diziam que quanto mais socavam, mais anos de vida teriam. Sei que muitos faleceram com mais de 80 anos de idade, minhas tias tem mais de 80 anos, minha sogra tem mais de 90 anos eu já passei dos 70 anos, não sei se é falso ou real, o que vale é a ‘Fé’.

E a tradição das fogueiras, onde tornavam compadres e comadres, padrinhos e madrinhas, os ritos de pular as fogueiras e passar descalços sobre as brasas quentes e não queimar os pés e os pedidos de casamentos?

O tempo passou e nossas famílias não rezam mais terços, muitas faleceram, umas muito idosas, outras (os) evangélicos, restam só as lembranças e saudades...