Padre Valente
O Diário - 21 de outubro de 2025
KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani
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Se há um personagem da história de Barretos que todos deveriam conhecer, é o padre Francisco Valente. Anote aí o conselho dessa historiadora.
Era 5 de junho de 1909 quando foi embora - retornando à sua terra natal, a Itália - o padre Valente. Depois disso, pouco se falou sobre ele. Mas, para quem fareja a história da cidade, não é surpresa encontrar em suas fontes mais antigas a presença desse velho padre que aqui viveu por 29 anos.
Era 7 de setembro de 1829 quando nasceu o italiano Francisco Valente, e no dia de seu aniversário de 51 anos, em 1880, ele assumiu como vigário da paróquia do Divino Espírito Santo de Barretos. Foi o seu segundo vigário e quem inicia o livro de tombo da paróquia registrando seu patrimônio e mapeando as capelas do imenso território de Barretos com sua vila, distritos, povoados e fazendas. É por sua letra trêmula que se registram as divisas oficiais de Barretos usadas pela Igreja, pelo Estado e pela Justiça.
Padre Valente viveu em Barretos até os seus quase 80 anos. Era um senhor de idade avançada, por isso, a partir de certa época, contava com ajuda do adjunto Ernesto Urbani para as inspeções nas capelas e registros da paróquia. Como foram três décadas de vivência na cidade, o religioso acompanhou a construção da segunda capela e da atual igreja, a transformação do arraial em vila e depois município, o fim da escravidão, a transição do império para a República, a chegada da imprensa, do trem e da primeira escola. Não só acompanhou, como também foi responsável por algumas conquistas, afinal ele era o vigário da paróquia responsável pela imensidão de um território, portanto uma autoridade. É ele quem liderou e assinou a solicitação da emancipação de Barretos, constando argumentos estatísticos, políticos e sociais para tal feito. Há quem diga que ele tinha ideias progressistas e que teria plantado a primeira lavoura de café no município.
Como pessoa, não deixou de ser notado como um senhor que tinha voz baixa, cheio de manias, que gostava “tanto de manjare quanto de bebere”, declamador de Camões, amante da Divina Comédia e notado leitor. Era esse o padre que os documentos apenas apresentam, mas que a memória afetiva das pessoas coloriu e nos presenteou.



