Perfil do paciente de cabeça e pescoço: entre preconceito a negligência
O Diário - 29 de julho de 2025

Júlia Moreira Bodo, estudante do 3º período do curso de medicina da Facisb, orientada pelo prof. Luiz Fernando Albano de Paula
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Segundo a estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para cada ano trienal de 2020-2022 são esperados 22.840 novos casos de câncer da cavidade oral, lábio, orofaringe e laringe, estima-se que de todos os cânceres de cabeça e pescoço, os da boca e orofaringe sejam os mais frequentes. Sob essa perspectiva é importante ressaltar que 66% dos casos procuram assistência médica quando a doença já está em estágio avançado, reduzindo a sobrevida e qualidade de vida do paciente pós tratamento, a qual dependendo das dimensões da lesão poderá ter características invasivas e de comprometimento de estruturas laterais dessa forma acarretando consequências que ultrapassam o controle médico, assim como o isolamento social.
Em 2023 o estado de São Paulo tinha uma taxa estimada de 10,85 casos de neoplasia maligna na cavidade oral para cada 100 mil homens, enquanto esse número reduz para 2,72 casos para cada 100 mil mulheres. Os dados explicitam a maior incidência em homens que atualmente constituem o perfil do paciente da especialidade cabeça e pescoço: paciente do sexo masculino, de 50 a 59 anos, branco, de baixa escolaridade. Aliado a essas características ainda apresentam os fatores de riscos para o desenvolvimento de neoplasias: tabagismo e etilismo.
Tendo isso em vista urge a discussão sobre esse padrão e porquê ele ocorre. Em um estudo realizado para entender a construção social dos papéis atrelados ao gênero foi perguntado aos homens o que significava “ser homem” e a resposta deles se baseou na oposição do que caracteriza uma mulher na visão deles. Logo enquanto um homem deve ser ‘bruto”, “forte”, “agressivo”,”vive mais na rua” ; a mulher é “suave”, “sensível”, “doce””, “fica mais em casa”. Isso internaliza que a falta de cuidado é o que se espera de um “homem de verdade”, dessa forma os pacientes buscam ajuda quando não aguentam mais de dor ou estão sendo isolados socialmente devido ao odor das lesões em estado de necrose.
Considerando que o diagnóstico precoce de lesões está associado a maiores índices de sobrevida e redução da morbidade , torna-se fundamental implementar iniciativas voltadas à conscientização da população e ao aprimoramento da capacitação dos profissionais da atenção primária, a fim de que sejam capazes de identificar lesões suspeitas de malignidade em seus estágios iniciais.