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Por trás da tela: o drama real dos que apostaram tudo e perderam

Diocese de Barretos - 21 de junho de 2025

Por trás da tela: o drama real dos que apostaram tudo e perderam

Por trás da tela: o drama real dos que apostaram tudo e perderam

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Por Dom Milton Kenan Júnior, Bispo de Barretos

No final de 2024, o Senado Federal formou uma comissão para investigar os impactos das apostas esportivas on-line — as chamadas “bets” — na vida das famílias brasileiras. O prazo para conclusão dos trabalhos é neste próximo sábado, dia 14. Essas plataformas, presentes em celulares e computadores, prometem ganhos fáceis com apostas em jogos de futebol, basquete, tênis e outros esportes. Mas, por trás dessa promessa, há um rastro de sofrimento. Cada vez mais pessoas, especialmente os jovens, estão sendo atraídas por essas apostas. Muitos acabam abandonando os estudos e o trabalho, iludidos pela ideia de que vão enriquecer rapidamente. No entanto, o que encontram é frustração, dívidas, ansiedade e até depressão. Em casos mais graves, surgem pensamentos suicidas. Segundo a Serasa, em 2024 houve um aumento de 23% no número de jovens de 18 a 24 anos buscando renegociar dívidas — e as apostas têm papel importante nesse crescimento. Uma pesquisa mostrou que 47% dos apostadores perderam mais do que esperavam. Outro levantamento apontou que 25% dos jovens que apostam apresentam sinais de compulsão e ansiedade. E o Hospital das Clínicas de São Paulo registrou um aumento de 400% nos casos de vício em apostas entre 2021 e 2024. Por trás de gráficos, aplicativos e promessas, há famílias destruídas, lares desfeitos e muita dor. E o mais triste é ver que muitos dos que caem nessa armadilha são pessoas humildes: jovens sem apoio, pais e mães de família, idosos com pouca instrução, todos enganados pela falsa esperança de que aquele dinheiro apostado voltará multiplicado. Como bispo e pastor, não posso me calar. Ainda que as apostas estejam legalizadas, não deixam de ser uma porta escancarada para o sofrimento humano. Alimentam a ganância, corroem os laços familiares e colocam em risco a dignidade de filhos e filhas de Deus. Estamos na semana de Santo Antônio, que em sua época defendia os pobres explorados pelos juros abusivos. Se estivesse entre nós hoje, certamente sairia em defesa das vítimas dessas apostas modernas, que arrancam das mãos do povo o pouco que ainda têm, impondo-lhes dívidas e aflições. Que o sofrimento dessas pessoas — jovens, idosos, trabalhadores simples — toque nossos corações. Que sejamos voz profética em meio a este tempo, denunciando o engano e anunciando a verdade: a verdadeira alegria não está no lucro fácil, mas na vida vivida com dignidade, fé e esperança.