Quando o Amor veste um jaleco branco
O Diário - 8 de agosto de 2025

Aparecido Cipriano, militar aposentado, Diretor de Escola
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Era uma cidade do interior, dessas que guardam o cheiro da terra molhada e a pressa de quem só corre para cuidar. Barretos, sertão paulista. No ano de 1962, nasceu ali um hospital. Simples, pequeno, mas com uma missão gigante: cuidar de quem ninguém queria cuidar. Não era tempo de selfie, nem de editais milionários. O câncer ainda era palavra sussurrada, quase um carimbo de fim. Mas um casal de médicos, Dr. Paulo Prata e Dra. Scylla Prata, decidiu que a dor alheia merecia resposta. Fundaram o Hospital São Judas Tadeu. E assim, com dois estetoscópios e muita coragem, Mostrando que o brilho da Prata vale ouro e começaram o que hoje o Brasil inteiro chama de Hospital de Amor.
Anos depois, por um chamado divino, o filho Henrique Prata herdou não só a administração, mas a alma da missão. Faltava tudo: leito, verba, apoio. Sobrava amor, coragem e uma teimosia bonita de quem acredita que ninguém deve morrer sem dignidade. Assim foi à luta. Buscou apoio entre fazendeiros, amigos, cantores sertanejos, empresas, caminhoneiros, artistas, gente simples e poderosa. Um tijolo aqui, um show beneficente ali, uma canequinha acolá. E o milagre foi se construindo em silêncio, tijolo por tijolo, até virar o que é hoje: o maior centro de tratamento de câncer do SUS no Brasil.
Cada paciente que chega ali não encontra só bisturi e medicamento. Encontra abraço. Encontra música no corredor, flor no vaso, cuidado no olhar. E talvez por isso o nome tenha mudado oficialmente: Hospital de Amor. Mas quem passava por lá já chamava assim há muito tempo.
Não é exagero dizer que o hospital virou um símbolo de resistência humanizada. Cresceu, espalhou unidades por vários estados, criou escolas, museus, teatro, centro de pesquisa, prevenção itinerante. E tudo com uma filosofia singela: tratar o outro como gostaríamos que tratassem quem a gente ama.
No mundo em que tudo parece ter preço, ali ainda há valor. No lugar onde a medicina muitas vezes esquece a alma, o Hospital de Amor nos lembra que salvar vidas é mais que estatística — é também salvar esperanças. E pensar que tudo começou com um casal, uma cidade e uma certeza: que ninguém enfrenta o câncer sozinho, e que o amor, quando veste jaleco, faz milagres silenciosos todos os dias.