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Razão e Diálogo – Quando só escolhemos o que nos convém

O Diário - 31 de julho de 2025

Razão e Diálogo – Quando só escolhemos o que nos convém

Aparecido Cipriano - Militar aposentado e Diretor de Escola

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Vivemos a era dos algoritmos. Eles nos entregam o que queremos ver, ouvir, seguir. No Instagram, YouTube, X, TikTok e tantos outros, recebemos um espelho do que já pensamos. Cada curtida, comentário ou rolagem molda um universo sob medida, feito sob o filtro do nosso próprio gosto. E o perigo mora exatamente aí: quando só consumimos o que já concordamos, deixamos de escutar o contraditório — e o diálogo morre.

Na vida real, essa lógica começa a se infiltrar. Relacionamentos passam a ser escolhidos como se fossem publicações: seguimos quem reforça nossas ideias, silenciamos quem nos confronta. E, nesse processo sutil, a razão se levanta como uma muralha — intransponível. Afinal, como dialogar com quem sempre “tem razão”?

O diálogo verdadeiro exige abertura. Não é sobre convencer, mas compreender. Requer coragem para ouvir o que não se espera, humildade para admitir quando se erra e, sobretudo, disposição para crescer. Infelizmente, há quem confunda razão com verdade absoluta. E aí a conversa vira embate, a escuta vira espera da própria vez de falar, e o encontro vira disputa. Você já teve a impressão que quando está falando com alguém e essa pessoa não te está ouvindo, mas sim elaborando respostas?

Discutir com alguém que acredita ser dono da razão pode ser tão frustrante quanto tentar encher um copo que já está cheio. Não há espaço para novas ideias, para outras perspectivas, para trocas genuínas. Quando você acredita estar 100% certo, talvez seja hora de emprestar 20% ao seu interlocutor — não por dúvida, mas por respeito. Caso contrário, não haverá diálogo. Haverá apenas monólogos cruzados.

A razão, sozinha, nos mantém no mesmo lugar. O diálogo, esse sim, move-nos — às vezes para um novo entendimento, às vezes para o reconhecimento do outro, sempre para além de nós, talvez esse seja o desafio dos nossos tempos: reaprender a conversar fora da bolha, sem o filtro dos algoritmos, sem o escudo da razão. Reaprender a ser gente entre gente, que errar é humano e estar sempre certo é muito chato.