Sobre causos e sentido na vida
O Diário - 7 de novembro de 2025
Claudia Lima é Cirugiã-dentista, Ortodontista e Mestranda em Odontopediatria
Compartilhar
Das belezas da vida, a maior para mim é ouvir os causos que alguém me conta. Tenho construído um diário de histórias dentro de mim. Outro dia uma moça me contou que está no último ano de enfermagem. Conseguiu passar na Universidade de São Paulo e lá foi se graduar na melhor faculdade do Brasil. Com a bolsa de estudo, alugou uma kit-net, um apartamento pequeno que não tem divisória, porque nessa época da vida tudo é tão simples, que nem a casa da gente precisa ser dividida. (Acho que quando viramos adultos, lá pelos trinta e pouco, começamos a dificultar a vida e encher de compartimentos, muitos deles que mal entramos). Antes de estudar, a moça tinha trabalhado e guardou dinheiro para comprar um apartamento pequeno na cidade que vai morar com o futuro marido. Cada um paga a metade do empréstimo. Ano que vem planejam casar. Com ela eu quase viajei nos contos de fada da vida real. Dentro de mim fiz uma prece para ela concretizar todos os sonhos. O outro causo que vou contar é sobre uma atriz, saltimbanco, que nasceu no ônibus dos pais, artistas mambembes. Ela, Maria, na entrevista que passava na TV, tinha 29 anos. Era uma reprise. Liguei a TV e fui escolhendo os canais, como eu não faço há meses. Não assisto TV. Parei num canal e lá estava a Maria, a atriz, falando sobre Fé, alegria do nascimento da filha e sobre a dor da separação dos pais e de não ter tido infância porque desde cedo cuidou dos irmãos, foi irmãe. Acho que minha irmã também foi irmãe minha. Gostei desse termo. Eu chorei um pouco ou um muito de saudade das noites que eu e minha mãe assistíamos TV juntas. Nossa parceria transcendeu o amor de mãe e filha e me faz crer no sobrenatural da vida.
E é por isso que, para mim, a vida é tão interessante. Cada pessoa que cruzo traz consigo um mundo inteiro — histórias, memórias, risos, dores, causos que divertem e outros que fazem pensar. Ouvir essas vozes, partilhar momentos, reconhecer pedaços da minha própria história nas palavras dos outros… é isso que me dá sentido. Conversar é, para mim, a forma mais bonita de viver.



