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Sobre o consumo, o consumismo e a felicidade das coisas.

O Diário - 26 de março de 2022

Sobre o consumo, o consumismo e a felicidade das coisas.

Sobre o consumo, o consumismo e a felicidade das coisas.

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Como seres humanos temos de consumir. Alimentos, roupas, diversos tipos de tecnologia fazem parte das necessidades das quais dependem o conforto, o bem-estar, a vida. A produção, comercialização e consumo de bens e mercadorias são a base de organização de nossa sociedade e sua expansão é vista como materialização da prosperidade. Somos estimulados cotidianamente a viver a dinâmica. Claro, consumindo. O problema é que o ato de consumir ultrapassa cada vez mais apenas a necessidade, sendo alçado à condição da própria felicidade em si. Na sociedade pós-moderna em que os sujeitos assumem distintas identidades sem qualquer preocupação com um eu coerente, como nos aponta Stuart Hall, e em que também as relações sociais são fluídas e efêmeras, como afirma Zygmunt Bauman, o consumo propicia a sensação da felicidade que é realizável. Supro minhas carências e angústias pessoais através da simples compra e posse de tudo um monte (e não um pouco). O consumismo - que é o que vivenciamos - assume papel quase identitário, pois fixa o eu na sociedade, em posições de status, de fracasso e de sucesso, dependendo da quantidade desenfreada de coisas adquiridas. E a percepção do lugar ocupado é sempre em relação aos outros. Thorstein Veblen nos fala do consumo conspícuo, que podemos reduzir à ideia de ostentação. Somos o que temos e não gostamos que tenham o que nós temos. O consumismo nos diferencia, já que somos melhores porque temos o que outros jamais terão. Não é difícil imaginar o sofrimento, tanto para quem sempre tem de comprar - até para que possa também se vender, enquanto o bem-sucedido - quanto para quem quase sempre é privado desse privilégio. Até porque hoje novas necessidades são constantemente criadas, assim como a exclusão da "vida feliz" do consumo é permanente e diariamente sentida... cada vez por mais gente... cada vez para mais coisas...