Sujeito Indeterminado
O Diário - 24 de julho de 2025

Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais
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Impessoalidade, generalização e objetividade
Frases como “Disseram que o sistema caiu” ou “Estão contratando para aquela vaga” circulam com naturalidade na fala cotidiana e em textos que evitam nomear quem realiza a ação. Embora frequentes, essas expressões passam despercebidas pela maioria dos falantes, apesar de revelarem uma estrutura expressiva da língua portuguesa: o sujeito indeterminado. Esse recurso permite focar na ação verbal sem destacar o agente, o que favorece a impessoalidade, a generalização e a objetividade. Entre as formas mais recorrentes estão o uso da terceira pessoa sem agente explícito e as construções com o pronome “se” em contextos específicos.
A forma verbal na terceira pessoa, quando empregada sem sujeito expresso, é uma das maneiras mais comuns de indeterminar a ação. Esse mecanismo é utilizado tanto para omitir o agente quanto para atribuir à ação um caráter mais genérico. Casos como “É necessário estudar” e “Disseram que o prazo foi prorrogado” mostram como a ausência do sujeito explícito transfere a atenção do leitor para o fato em si. Em registros administrativos e jornalísticos, essa estratégia amplia a eficácia informativa e reduz a personalização do conteúdo.
Já as construções com o pronome “se” reforçam a impessoalidade e a abstração do agente ao serem associadas a verbos intransitivos ou transitivos indiretos. Frases como “Trabalha-se com prazos curtos” ou “Precisa-se de colaboradores experientes” são recorrentes em editais, comunicados e anúncios, pois configuram enunciados mais neutros e institucionais. Saber calar o sujeito, quando necessário, é também saber escrever com precisão. Aliás, há textos em que o agente se apaga, mas o sentido permanece. Tal como uma presença que só se deixa perceber pela sombra que projeta.
Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais