Indeterminado versus impessoal 

Poucas pessoas se dão conta de que inúmeras frases do dia a dia não têm um sujeito claramente definido. Em alguns casos, isso acontece porque a ação é atribuída a alguém que não se identifica; em outros, porque simplesmente não há sujeito possível. Essa distinção, que separa o sujeito indeterminado das orações sem sujeito, é fundamental para compreender como a língua organiza a experiência humana. Enquanto no primeiro tipo de construção não se consegue determinar que termo desempenha a função de sujeito, no segundo é o próprio predicado que sustenta a oração, sem necessidade desse elemento essencial.

O sujeito indeterminado surge quando a ação é praticada por alguém que não se pode ou não se deseja identificar. No enunciado “Dizem que haverá mudanças”, não é possível apontar quem diz; da mesma forma, em “Precisa-se de funcionários”, o verbo revela uma ação, mas o agente permanece irrecuperável. Nesses casos, não há termo da oração que se possa reconhecer como sujeito. Trata-se, portanto, de uma estratégia da língua para indicar que há um responsável pela ação, mas sem especificá-lo, recurso muito comum em contextos de indeterminação ou generalização.

Já a oração sem sujeito ocorre em situações em que, embora o sujeito seja considerado um termo essencial na gramática, ele não aparece porque não há como existir. Em “Choveu a noite toda” ou em “Anoiteceu cedo”, o predicado, sozinho, é suficiente para construir o sentido. Não se trata de um sujeito oculto, mas de uma estrutura que se organiza inteiramente em torno do verbo. Entender esse funcionamento é mais do que dominar uma regra: é perceber que a língua, ao narrar o mundo, ora esconde o agente de uma ação, ora mostra apenas o acontecimento. É como se algumas frases deixassem entrever a mão que age, enquanto outras se limitassem a registrar o momento inevitável do tempo. 

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.