Uma árvore numa bandeja
O Diário - 28 de janeiro de 2025

Rosa Carneiro é empresária e presidente da Academia Barretense de Cultura
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Sim, é verdade. A vontade humana de controlar a natureza não tem limites. Os sonhos mais loucos, com paciência, sabedoria e determinação, podem ser realizados. Um dia, um sonhador decidiu: vou colocar uma árvore em uma bandeja. Decidiu também que ela amadureceria, se tornaria adulta, daria frutos, envelheceria, mas nunca, jamais, nem depois de um século, passaria de uns dois, três palmos de altura.
Nascia o bonsai, que quer dizer justamente “árvore numa bandeja”. E qualquer um que o veja e tenha um pouco de sensibilidade certamente refletirá por algum tempo.
Ele concilia ter raízes com ser livre. É da natureza das árvores serem obrigadas a morrer onde cresceram. Às vezes transplantadas, sofrem terrivelmente! O bonsai, como certas almas, troca o gigantismo e grandes raízes pela mobilidade. É pequeno, mas viaja e vê as mais diferentes paisagens.
O bonsai despreza a juventude. Um tronco lisinho, esguio, sem marcas do tempo, nada vale. É admirado exatamente aquele que tem em suas formas uma história para contar. Sinais que falem dos ventos que sofreu, da disciplina como que foi moldado, do que o tempo fez com ele. Se a gente aprendesse só essa lição com os bonsais, quanta angústia seria evitada.
Uma alma enorme e valente, num corpo pequeno. Ele suporta as mesmas dificuldades de seus irmãos gigantes. Quer chuva, quer sol, ventos e tudo o que a natureza oferece. Não deve ser poupado por ser pequeno. Precisa sofrer e viver para gravar em seu tronco uma história de vida.
Todo bonsai precisa ter um mestre. Ele é o sonho de alguém. É uma paixão na qual horas e horas são investidas; treina a paciência. Fala sobre o tempo, seus efeitos, revela talentos, denuncia fracassos. Mostra o bondoso, que faz o que precisa ser feito, e o tirano, que molda mais por vingança do que por amor.
O bonsai tem algo de humano, brincando com sua força, tentando limites, tentando dominar a natureza enquanto procura a si mesmo