Esqueci minha senha
Vitimismo e terceirização da culpa no trânsito

O Diário - 9 de março de 2025

Vitimismo e terceirização da culpa no trânsito

Carlos D. Crepaldi Junior - Advogado especialista em Gestão e Direito de Trânsito - Auditor ISO-39001 - Ex-Conselheiro do CETRAN-SP

Compartilhar


O caos no trânsito brasileiro não é novidade e o número de vítimas segue inaceitável. Mas, mesmo com uma lei rigorosa, por que o trânsito segue tão perigoso?

A resposta pode estar na forma como os motoristas encaram seus erros. Muitos preferem se fazer de vítimas ou transferir sua culpa para terceiros. Se são multados, responsabilizam o agente de trânsito. Se avançam um sinal vermelho, alegam que a sinalização estava ruim. Se excedem a velocidade, justificam afirmando que “todo mundo faz isso” ou que “a via induz a correr mais”. Agir dessa forma impede que o condutor perceba a necessidade de mudar, perpetuando o caos.

O trânsito nada mais é do que o reflexo das pessoas. Os que respeitam as regras contribuem para um ambiente mais seguro, enquanto aqueles que buscam justificativas para suas infrações reforçam a cultura da irresponsabilidade.

Um exemplo claro são os acidentes por excesso de velocidade, frequentemente atribuídos a fatores externos, como condições da via ou falhas de outros, quando, em boa parte das vezes, o problema é a escolha consciente de descumprir a lei. O mesmo ocorre com a embriaguez ao volante. Somente reconhecem o grave erro quando são pegos, e mesmo assim continuam desconsiderando os riscos que oferecem aos outros.

Mas a culpa pelo cenário atual não é exclusiva dos condutores. Órgãos de trânsito também precisam agir corretamente para minimizar argumentos usados para justificar infrações. Multas indevidas, falhas na sinalização e infraestrutura precária fortalecem a sensação de injustiça. Com fiscalização transparente e sinalização eficiente, a aplicação das regras será vista como necessária, e não como perseguição.

No entanto, somente haverá melhora no trânsito quando as pessoas assumirem suas responsabilidades. Não é a multa que causa um problema, mas sim a infração que a antecede. Regras existem por um motivo e devem ser seguidas, por todos. Quando pararmos de justificar os erros e começarmos a evitá-los, provavelmente o trânsito será menos violento.

Enfim, se queremos um trânsito melhor, é preciso mais consciência e menos desculpas.